
Julián Fúks é um escritor e crítico literário brasileiro, filho de argentinos. Ganhou prêmio Jabuti com a obra “A Resistência”.
O tema central do livro é a questão do pertencimento. Do ato de pertencer a uma família, a um país, ao mundo e principalmente a si mesmo.
O que pertencer? Fazer parte, ter um lugar, habitar um espaço tempo. É tudo isso, que também pode constituir uma relação dialética. Você é o espaço, mas ao mesmo tempo o espaço pode ser um não você. O que pode constituir uma resistência. Muito complicado? Vou explicar melhor.
O livro começa com a frase: “Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adotado. ” Sebastian que é o filho mais novo e também o narrador da história, começa nos informando de que seu irmão pertence à família, mas ao mesmo tempo poderia não pertencer e ele por amor ao irmão, não quer tomar contato com isso.
Para encontrar seu lugar no mundo, Sebastian começa a nos contar a história de sua família. Por parte de pai, os avós judeus romenos vieram para a Argentina.
Uma narrativa de um exílio, que começou na época da expulsão dos judeus da Palestina pelos romanos, a imigração destes para a Europa, uma onda crescente de antissemitismo no fim do século XIX e início do XX e a vinda destes para a Argentina.
Uma história de resistência e de um não lugar. Eles pertencem à Palestina, porém foram Romênia, quando se sentiam romenos, tiveram que sair, foram para Argentina.
Agora seus pais argentinos estão vivendo tempos duros, com o Regime Militar. Eles não concordam com o governo, resolvem se revoltar. Por causa disso, passam a ser ameaçados e precisam deixar o país.
De novo o exílio na história familiar. Eles precisam achar um lugar. Esse país será o Brasil.
Muito longe de ser um lugar ideal, será o país possível. E eles argentinos serão o outro. Mas, precisam pertencer de alguma forma.
Com o nascimento da filha brasileira, eles ganham cidadania. O filho mais velho é argentino, os dois mais novos já nasceram em São Paulo.
Sebastian é uma personagem incomodada. Seus pais são argentinos, ele é brasileiro, seu irmão é adotado e poderia não ter sido seu irmão e isso lhe causa angústia.
O narrador volta para a Argentina a fim de resgatar seu passado. Ele pede para ver o apartamento onde sua família morou. O porteiro pergunta: “Você sabe o nome de quem morou aqui? ” Ele responde: “Sim, são meus pais. ”
Poderíamos traduzir a pergunta do porteiro para: Você sabe quem é você? E a resposta: Sim, sou filho dos meus pais. A partir da viagem à Argentina houve a afirmação de uma identidade. Ele entendeu quem eram os pais e o que ele era.
As perguntas ainda não acabaram. Quem é o irmão? Ele poderia ser uma criança raptada de alguma opositora do regime militar, que deu à luz dentro de uma prisão? Sebastian se questiona, quando vê as avós da Praça de Maio.
