O Conto da Aia é uma distopia, que se passa em 1985, em um país fictício chamado Gilead.
Margaret Atwood parte de uma fantasia, mostrando um mundo horrível (distopia), para discutir problemas reais, vinculados à regimes teocráticos, falta total de liberdade e principalmente, a perda dos direitos e violência contra as mulheres.
A narrativa é feita em primeira pessoa, por uma aia chamada Offred (não é seu nome real, pois, as mulheres perderam seus nomes) e ganhavam um patronímico de acordo com a casa da pessoa em que era designada para trabalhar. Offred significa de “De Fred”, pertence a Fred.

A República de Gilead surgiu a partir de uma revolução teocrática no século XXI. Sua construção teve por base os preceitos puritanos do século XVII, que constituem o inconsciente coletivo norte-americano.
O mundo anterior à revolução foi tomado pela promiscuidade sexual, doenças venéreas, como AIDS e contaminação radioativa, deixando a maioria das mulheres inférteis.
As mulheres que ainda continuaram férteis eram as aias, que receberam a incumbência de gerar filhos para a família dos Comandantes.
Elas eram obrigadas a usarem um vestido vermelho e um chapéu com abas enormes, que as impediam de olhar dos lados.
A sociedade de Gilead se estabeleceu de acordo com castas: as aias procriadoras, as martas – empregadas domésticas, as tias – especializadas em lavagem cerebral das aias, as esposas dos Comandantes – elite da sociedade, os Comandantes – líderes sociais, os Guardiães – soldados e as “não mulheres”: homossexuais, feministas, adúlteras e mulheres inférteis de maneira geral, que ficavam em uma espécie de campo de concentração nazista.
Antes da revolução teocrática Offred vivia uma vida normal, tinha uma carreira, um marido, uma filha e uma mãe com pensamentos libertários. Quando os fanáticos tomaram o poder, as mulheres perderam seus empregos, suas contas nos bancos e não podiam sair de casa sem algum homem da família.
De repente, a protagonista se vê na função de aia, seu marido e sua filha desaparecem.
Dessa forma, a narradora é designada para “trabalhar” na casa de um Comandante do Exército de Gilead. Sua função era procriar.
“Tenho trinta e três anos. Tenho cabelos castanhos. Tenho um metro e setenta de altura descalça. Tenho dificuldade de me lembrar da aparência que eu costumava ter. Tenho ovários viáveis. Tenho mais uma chance. ”
A relação sexual se daria da seguinte forma. A esposa do comandante estaria presente e seguraria os braços da aia, enquanto o Comandante a estuprava (vamos nomear corretamente).
Quando a criança nasce a aia dá o bebê para ser criado pela família, que a recebeu e vai “servir” em outra casa. Nunca terá contato com a criança.
Gilead tem alguns rituais, como por exemplo, as aias têm o direito de espancar em praça pública um homem considerado estuprador. No entanto, esse homem pode ser simplesmente, um dissidente do regime.
As mulheres, que por algum motivo, não cumprem suas funções são enforcadas e seus corpos ficam pendurados em um muro, servindo de exemplo para as demais pessoas.
Os cremes para a pele são proibidos e Offred, que tem a pele seca, passa manteiga para remediar o problema.
O momento do parto de uma aia é bizarro. Todas as aias se ajuntam e ficam cantando músicas e “vivendo o momento”, enquanto as mulheres dos Comandantes ficam no quarto ao lado, sentindo as dores e gritando.
Um ponto angustiante é quando o Comandante começa a querer se relacionar com Offred, visto que, nenhuma troca de palavras entre eles é permitida.
Por mais bizarro que a narrativa de Margaret Atwood possa parecer, analisando historicamente vemos que não é tanto. Eis uma pequena amostra:
Marjane Satrapi, como várias moças iranianas, teve que fugir do seu país natal, após a revolução islâmica, pois, eram consideradas “liberais demais” e poderiam ser assassinadas. As mulheres foram proibidas de cursar faculdades e exercer diversas profissões.

Nicolae Ceausescu ditador comunista da Romênia, governou o país de 1965 – 1989 quando foi executado. Chegou a proibir o uso de qualquer método contraceptivo pelas mulheres, pois todas eram obrigadas a terem filhos.

Revolução Talibana no Afeganistão fez com que as mulheres perdessem todos os direitos civis, obrigando-as a usarem burcas sob pena de morte.

O Estado Islâmico sequestra mulheres de outras etnias e religião e as utilizam como escravas sexuais.

Em alguns países islâmicos as mulheres quando são estupradas são obrigadas a se casarem com seus agressores.
Meninas são forçadas a se casarem com homens mais velhos em muitos países.

Milhares de mulheres e crianças são traficadas no mundo inteiro para servirem como escravas sexuais.
Hipnose e água benta são usados para “curar” homossexuais na Rússia.

A prostituição infantil é uma realidade em diversos países.

200 milhões de meninas em vários países tem seu clítoris arrancado.
No Brasil temos 135 estupros por dia.
Vemos que o livro da Margaret Atwood não é uma história tão difícil de se tornar realidade, como podemos verificar.
A leitura é bem fluída, no entanto, teve momentos em que eu tive que parar, pois, tem partes muito tristes. Conforme Offred vai narrando vai dando muita angústia e sentimento de impotência.
Recomendo esse livro para qualquer pessoa, pois, as reflexões que ele traz são importantíssimas, para valorizarmos nossa liberdade e autonomia.
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Persépolis – Marjane Satrapi:
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Ju, brilhou na análise a nas analogias ao mundo real. Gosto tanto desse livro…
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Olá, Obrigada!!! Livro é realmente espetacular!! Abçs!!
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Em fila de espera na minha estante 🙂
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Vale a pena tira-lo da fila….risos…
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Muito boas suas analogias! Soube q este filme premiou melhor atriz, entre outros, recentemente…
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Oies Ju! Mais um para a lista! 🙂 Bjos
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Olá, Juliane! =)
Achei bem interessante como você relacionou o Conto da Aia aos fatos verídicos que existem e infelizmente ainda continuam existindo, uma minoria sempre é eleita, a maior parte é formada por mulheres que ainda são vistas como o sexo frágil e são expostas como objetos a crueldade e egoísmo humano.
Comprei esse livro a pouco tempo, ainda estou lendo e pretendo ver a série. Bjs
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Esse livro é muito bom!! O pior é que a Margaret Atwood não tirou a narrativa do nada….o que é muito triste. Bjs!
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Terminei o livro agora e adorei a leitura, recomendo, mas confesso que queria mais, mais detalhes, o que aconteceu afinal com os personagens. Acho que termina do nada.
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Olá Leila! Creio que terá uma continuação! Abçs!
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Olá, é a primeira vez no seu blog e posso dizer que gostei muito!!!
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Muito obrigada, Sofia! Abraços.
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Gosto das suas resenhas, pois relaciona com os dias de hoje.
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Oi Jamila,que bom que tens gostado. Obrigada pela visita! Bjs!
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