Niklas Frank e Horst von Wächter são filhos de nazistas. Imaginamos como foi crescer sendo filho de um genocida, após a Segunda Guerra Mundial. Como fica a mente de uma pessoa que cresce nessa circunstância?
Como esses dois nazistas eram dentro de casa? O que pensavam? Eu tenho muita curiosidade em saber como eram essas figuras intimamente. Eram burocratas medíocres como o Eichmann? Ou eram o cérebro da operação?
Quando comecei a assistir ao documentário essas foram algumas perguntas que eu fiz e obtive algumas respostas.
Niklas Frank é filho de Hans Frank – conhecido como carniceiro da Polônia. Ele ocupou o cargo de governador geral na Polônia ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi responsável pela organização dos guetos e dos campos de concentração em território polonês.

Horst von Wächter é filho de Baron Otto Gustav von Wächter – governador geral da Cracóvia (Polônia) e do distrito da Galícia na Ucrânia. Foi pessoalmente responsável pela formação do gueto da Cracóvia e por incentivar pogroms (ataques aos judeus) na Galícia.

Ambos foram entrevistados pelo advogado, que atua como defensor dos Direitos Humanos nos Estados Unidos, chamado Philip Sanders, cuja família foi praticamente exterminada em campos de concentração.
Niklas Frank revela que seus pais viviam um casamento infernal, cheio de brigas e traições. Hans Frank amava Hitler acima de tudo. Sabia Goethe e Shakespeare de cor, pois era uma pessoa extremamente culta.
Para o entrevistado, toda a sua humanidade foi ensinada pela babá, pois sua mãe não gostava de crianças e pouco teve contato com os filhos.
Ele conta que quando criança chegou a visitar o gueto de Varsóvia. No local viu crianças com a estrela de Davi nos braços e não entendeu. Mostrou a língua para um menino, que abaixou a cabeça e saiu de perto. Sua babá o repreendeu. Na infância, Niklas Frank não fazia nem ideia do que estava acontecendo.
Horst von Wächter recebe Philip Sanders em sua casa e trata o assunto de seu pai com muita normalidade. Sua postura difere completamente de Niklas Frank. Ele acredita que seu pai queria salvar os judeus e era contra o genocídio. Vive em total negação da realidade.
O entrevistado descreve o pai como alguém carinhoso e atencioso com a família. Vendo as fotos familiares não há nem sombra da figura do genocida nazista.

A cidade ucraniana de Lviv está no âmago do documentário, pois liga os dois entrevistados a Philip Sanders. O mesmo local foi chamado pelos alemães de Lemberg e pelos poloneses de Lwow. A partir disso, temos uma ideia dos conflitos.

A população judaica foi praticamente exterminada da cidade. Em 1942, o local era um importante centro judaico, hoje a comunidade desapareceu.
No entanto, hoje temos uma população ucraniana de extrema direita que idolatra o pai de Horst, pois ele havia prometido liberdade para a população da cidade.

Nada mais ingênuo, visto os discursos do Hitler a respeito dos eslavos de uma forma geral.
O documentário mostra Horst sendo ovacionado pela população de Lviv.
Niklas Frank revive os momentos finais de seu pai, em que ele pede para se confessar com um padre e depois cumpre a pena de enforcamento.
Baron Otto Gustav von Wächter não foi julgado em Nuremberg, pois foi protegido pelos contatos que tinha com pessoas do Vaticano.
Podemos perceber que os dois entrevistados tiveram suas vidas marcadas pelo fato de serem filhos de nazistas. No entanto, Niklas Frank demonstra mais consciência a respeito dos feitos paternos, ao contrário de Horst que mesmo com todas as evidências da participação de seu pai, acredita em sua inocência.
Pelo documentário podemos depreender que tanto Hans Frank como Otto von Wächter eram membros do Partino Nazista e, portanto, tinham total consciência de seus atos. Ambos estavam muito distantes do burocrata medíocre que foi Adolf Eichmann.
Para quem se interessar o documentário está disponível na Netflix.
Impressionante como hoje em dia, mesmo depois de tantos documentos e abertura de informações, ainda exista quem se posicione favoravelmente às atrocidades alegando que desconhece a história. E essa relação entre nazistas e suas famílias me lembra um documentário sobre o diretor de Auschwitz que nas horas vagas era um pai maravilhoso e um marido carinhoso.
Adorei seu texto.
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Obrigada, Gabriel!! Os ucranianos me impressionaram muito, visto que Hitler foi muito claro em relação aos eslavos. Pior, que temos isso no Brasil também, gente que idolatra o nazismo, mas de forma mais escondida. Vou procurar o documentário sobre o diretor de Auschwitz! Abçs!
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Gostei muito do post. Vou procurar o documentário no Netflix.
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Vale a pena, é um documentário que mostra outras perspectivas sobre o nazismo. Abçs!
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Eu já assisti a este documentário, e recomendo também: enfim, uma visão contrária sobre o nazismo, ou seja, o que ele significou para crianças inocentes imersas naquele inferno autoritário… Boa recomendação! Abs.
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O doc. trabalha sob um ponto de vista que raramente pensamos, os filhos dos algozes, que acabam sendo vítimas também. A vida do Niklas Frank deve ter sido terrível. Abçs!
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