Para Hannah Arendt, o terror totalitário não era um meio para o fim, mas a própria essência do governo. Esse tipo de terror existiu tanto no nazismo, quanto no stalinismo.
No governo nazista, o objetivo era formar uma sociedade dominada por uma etnia (ariana) e no stalinismo, a ausência de classes e nações, na qual cada indivíduo seria apenas um exemplar de uma espécie.
Se olharmos bem, na URSS existiam classes sociais, quem era líder do Partido Comunista dominava as outras pessoas, mas como explicou a autora até essas pessoas foram vítimas do sistema que ajudaram a criar.
Segundo a filósofa, o terror como meio de submeter as pessoas pelo medo, pode aparecer com várias roupagens.
O terror pode aparecer em governos tiranos em diversos períodos da História, vimos o terror nas revoluções e contrarrevoluções, das maiorias contra as minorias, até de minorias contra a maioria da humanidade.
No entanto, a Ciência Política deve elucidar as diferenças entre todas as formas de regimes de terror, pois em cada contexto o terror tem uma função específica.
A diferença do terror no totalitarismo e em outras formas de governo NÃO foi a escala quantitativa, ou seja, o maior número de vítimas, ou o padecimento delas, mesmo porque não temos como comparar o sofrimento vivido pelos seres humanos.

Einsatzgruppen – Unidade móvel de Extermínio
Nas dinastias absolutistas o terror se originava na própria lei, que tinha por função proteger o ser humano e acaba o atacando, mas esse terror chegava ao fim, quando a oposição era destruída e ninguém ousava mais dar uma opinião contrária.
Porém, o terror totalitário foi diferente, ele apareceu quando os inimigos não mais existiam. O terror não se dirigiu contra suspeitos ou opositores do regime, mas se voltou contra pessoas inocentes.
O terror no nazismo e no stalinismo não teve fim e, por isso, não havia uma possibilidade de paz.
Hannah Arendt: “Trótski, que foi o primeiro a cunhar a expressão revolução permanente, entendia o real significado disso tão bem quanto Mussolini, a quem devemos a expressão “Estado Total”, sabia o que significava totalitarismo.”
Na Rússia e na Alemanha houve um aumento considerável de mortes, quando os regimes já estavam consolidados.
Nos primeiros anos da ditadura nazista na Alemanha havia no máximo dez campos de concentração e o número não passava de dez mil prisioneiros. O problema do desemprego havia sido resolvido e a classe operária não era mais uma oposição.
Em 1937, Himmler fez um discurso à Wehrmacht anunciando a necessidade de grandes ampliações dos campos.
Na URSS em 1930, a resistência do Exército Branco já havia sido esmagada e Stálin já havia liquidado os trotskistas, mas os gulags (campos de prisioneiros soviéticos) aumentaram desmedidamente.

A Alemanha nazista poderia encher seus campos com inocentes com mais facilidade do que os soviéticos. Qualquer etnia não ariana era inimiga do regime e Hitler já previa que após a guerra necessitaria criar outras categorias.
Por exemplo, o “Führer” sugeriu que após o conflito mundial todos os alemães deveriam passar por exames de raio X e todas as famílias que tivessem algum parente com problemas pulmonares ou cardíaco deviam ser encarceradas em campos de concentração. Como eu já disse em outros posts a bizarrice nazista não tinha fim.
Hannah Arendt cita o Holodomor (fome imposta artificialmente à Ucrânia), que foi um tipo de dizimação sistemática, a quantidade de mortos foi maior do que a guerra no front leste europeu.

As pessoas assassinadas nos gulags eram rotuladas como: trotskistas, agentes Wall Street, sionistas, liberais, poloneses, etc. No entanto, sabemos que eram normalmente pessoas sem nenhum vínculo com essas ideologias.
Também, houveram casos de prisioneiros que morreram nas marchas rumo à Sibéria e o soldado encarregado prendia qualquer um que passava em sua frente e o obrigava a entrar na coluna, porque ele tinha uma cota.
Essa forma moderna de terror não está muito interessada no que de fato o prisioneiro pensa, pois tudo está previamente determinado pelo governo, ele vai te acusar e te condenar sem provas.
No nazismo e stalinismo o crime já estava pré-determinado: Se era judeu, só podia fazer parte dos conspiradores dos Sábios de Sião, mesmo que sendo uma pessoa do interior da URSS, que às vezes, só falava iídiche; imaginando o triunfo nazista na guerra, se a pessoa era cardíaca seria condenada por ser um parasita no corpo saudável do povo germânico.
Na série “Trotsky”, vemos que o carcereiro Trotsky espancava um prisioneiro de forma aleatória e foi com ele que o jovem Bronstein (posteriormente ele se autonomeia Trotsky) aprendeu a aplicar o terror.
Outro ponto interessante é que qualquer um pode se tornar vítima, o carrasco de hoje pode ser a vítima de amanhã. Os expurgos stalinistas foram um ótimo exemplo disso.
Ambos regimes stalinista e nazista pretendiam tornar as pessoas supérfluas, com a individualidade inexistente. O prisioneiro não era considerado uma pessoa, não era ninguém que tinha nome, uma vida própria e sim um espécime indiscernível de Homo sapiens.

Os campos transformavam a pessoa em menos que um animal, em um simples feixe de reações que, dadas as mesmas condições, sempre reagirá de maneira idêntica.
Em caso de expurgos, os únicos confiáveis no stalinismo são aqueles treinados para não ter opinião, além disso, não sabem mais o que significa ter convicções. Essas experiências mostraram que o funcionário totalitário ideal é aquele que funciona de qualquer maneira, que não tem vida fora da função.
No entanto, a espontaneidade humana nunca pode ser inteiramente erradicada, porque os humanos sempre dependeram dela.
Dessa forma, o terror totalitário não era um meio em si, mas a própria essência do governo, seu objetivo era transformar o indivíduo em apenas um exemplar de uma espécie, sem sentimentos, sem inteligência e sem desejos.
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Juliane será que tem algum documentário em português sobre o ocultismo dos nazistas ? sei que Himmler acreditava muito nessas coisas,a sociedade Thule a energia Vril,o Sol Negro, a civilização de Atlântida etc..Seria mais um pretexto para a afirmação de uma raça superior.Tinha até a Sociedade Ahnenerbe dedicado a pesquisas sobre a raça ariana relacionada com o ocultismo e a busca do Santo Graal. É um tema interessante mas pouco falado sobre o período em questão.Abraços !!
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É verdade, eles eram ligados a práticas ocultistas, faz algum tempo eu procurei documentários sobre isso, não achei nada muito interessante, mas se souber de algo te escrevo. Abçs!
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[…] Veja também: Humanidade e Terror – Hannah Arendt: https://juorosco.blog/2019/03/04/resenha-texto-humanidade-e-terror-in-compreender-formacao-exilio-e-… […]
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Melhor resenha que já li! Esse blog é o que fala melhor sobre a segunda guerra, tem muitos detalhes e vc escreve de forma muito embasada.
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Muito obrigada, Mariana!! Fico feliz que tenha gostado!! Abraços!
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Hannah Arendt sempre maravilhosa!
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Oi Claudia, é realmente fenomenal.
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Nossa, impactado…
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Oi Feliciano, imagino, obrigada pela visita. Abçs.
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