“Uma Vida Chinesa” é um quadrinho autobiográfico, em três volumes, de Li Kunwu, que narra a sua história de vida, tendo como pano de fundo a China pós revolução comunista.
No início do século, o país era governado por uma monarquia e dominado de forma imperialista pela Inglaterra e França, fato que gerou vários movimentos nacionalistas.
Os nacionalistas entraram em guerra civil contra os Senhores da Guerra, que eram chefes militares e donos de terra.
Após a Revolução Russa, os comunistas começaram a ganhar força dentro da China.
Nesse processo, os nacionalistas e comunistas liderados por Mao Tsé Tung entraram em conflito, que foi interrompido devido a invasão japonesa na década de 30.
Com a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, a guerra civil foi retomada em 1946 e vencida pelos comunistas.
Quando Mao Tsé Tung assumiu o poder, ele começou a fazer várias mudanças sociais na China, esse é o pano de fundo de narrativa.

Muitos costumes feudais começaram a ser proibidos, como por exemplo, o antigo costume de enfaixar os pés das mulheres, para que não crescessem, pés pequenos eram considerados bonitos.

Um dos momentos mais terríveis retratado na obra foi a Grande Fome de 1960.
De 1958 a 1962, 45 milhões de chineses morreram de fome, como consequência do “Grande Salto para Frente”, um plano econômico de desenvolvimento que pretendia elevar a China no nível das potências ocidentais.
O pior não é que não havia comida disponível, mas ela era usada para forçar as pessoas a cumprirem as tarefas atribuídas pelo Partido Comunista.
As pessoas doentes e os idosos que tinham poucas condições de trabalharem se viram sem acesso às cantinas comunitárias e acabavam morrendo mais rápido de fome.

“O Estado chinês adotou a violência extrema como norma para impor a criação de grandes comunas agrícolas, nas quais homens e mulheres viviam em casas separadas e perdiam o controle da criação de seus filhos. Até cozinhar dentro de casa era proibido. Obrigados a falsificar números da produção e a entregar todo ao Estado o grão que produziam, os camponeses eram literalmente privados de comida – e de forças para reagir. Outro fator considerável foi a crença incondicional em Mao e no PC chinês, resultado de uma lavagem cerebral intensa e sistemática. “Tudo foi coletivizado”, escreve Dikötter. “Muito rapidamente o paraíso utópico provou ser um enorme quartel militar. A coerção e a violência eram as únicas formas de garantir que as pessoas executassem as tarefas que lhes eram ordenadas pelos membros locais do Partido.” Jornal O Globo, 17-04-2017.
Outro lado muito assustador do regime de Mao Tsé Tung foi a Revolução Cultural.
Tudo o que era considerado velha China deveria ser destruído, então os nomes que os pais davam para os filhos, que eram vinculados ao antigo regime foi modificado.
Cortes de cabelos vistos como ocidentais foram banidos, o autor que era criança na época chegou a desenhar um manual com os cortes proibidos e permitidos pelo Estado.

Conforme relatado pelo autor, o Partido Comunista colocou as crianças para fiscalizarem os adultos.

Elas entravam nas lojas, nas casas, nos salões de cabeleireiros e em todos os lugares para verificarem se não tinha nada “burguês”, ou qualquer coisa que contradissesse o Estado.
Os meninos e meninas passaram por uma completa lavagem cerebral, cantavam canções, que diziam que o amor dos pais não valia nada e sim o amor do país, enfim, as pessoas se tornaram completamente condicionadas as obedecerem.

Por delações de crianças, muitos adultos foram presos, até o pai do autor chegou a ficar 10 anos preso sendo “reeducado”.

Esse foi um quadrinho que gostei muitíssimo de ler, visto que conheci um pouco da história da Revolução Chinesa e seus desdobramentos na vida prática do cidadão.
Super recomendo para quem gosta de História, se interessa pela história da China, ou como eu quer aprender um pouco mais sobre regimes autoritários.
Li Kunwu é o narrador da obra, um dos raros artistas chineses de sua geração a ter se dedicado exclusivamente aos quadrinhos e a viver deles.
Em trinta anos de atividade, mais de trinta obras suas foram editadas na China, e ele foi publicado nas revistas de HQ chinesas mais emblemáticas.
Começou como especialista em HQ de propaganda, passando em seguida a estudar as minorias culturais chinesas, tão abundantes em sua província, Yunnan.
P. Ôtié viveu no Extremo Oriente durante mais de dez anos, e esta é sua primeira obra de história em quadrinhos.
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