Anatol Rosenfeld explica no texto “As Causas Psicológicas do Nazismo” por que, principalmente a pequena e média burguesia, incluindo pequenos camponeses (correspondem hoje a classe média baixa), contribuíram para a formação das hordas fanáticas do nazismo.
O nacional-socialismo é considerado a “revolução da pequena burguesia”. Esta classe abrangeu os artesãos, funcionários de escritórios e pequenos comerciantes.

As classes do baixo proletariado, os ricos, chamados de a grande burguesia, a elite católica, os industriais e os grandes fazendeiros (junkers) nunca foram nazistas no sentido genuíno, mas viram em Hitler uma maneira de conter uma revolução comunista.
Os operários estavam divididos pela luta entre comunistas e sociais democratas, uma luta trágica que solapou a consciência de classe e a força de resistência contra o fascismo.
Esse processo tornou a classe operária descrente, com um sentimento derrotista e psicologicamente desarmada para enfrentar a “revolução da pequena burguesia”.
O caráter autoritário se intensificou nessa camada da população (pequena burguesia) devido à sua situação desesperada.
“Empobrecida pela inflação, inferiorizada pela ascensão dos operários, proletarizada pela pressão da elite financeira, essa classe viu-se colocada como que entre as garras de um enorme alicate.”
A destruição do império do Kaiser destituiu a referência dos pequenos burgueses, além de sua almejada submissão.
Hitler saiu desse estrato social e é de nosso conhecimento, que ele era sadomasoquista sexual e moral.
O sadomasoquismo moral se traduz numa vontade doentia de poder e dominação, ligação a uma ânsia, igualmente doentia, de submissão e auto-diminuição.
Seria aquela pessoa que perto de alguém poderoso humilha-se e ajoelha-se, mas que em relação ao mais fraco o trata com brutalidade.
O maior problema é que o sadomasoquista moral só se sente bem dentro de uma hierarquia rigorosa, na qual sempre há alguém por cima e alguém abaixo dele.

De um modo geral, a evolução da humanidade tem sido a luta constante por maior liberdade individual.
Aos poucos o ser humano vai “emergindo” da união com a natureza e a tribo, essa emergência assumiu a forma mais radical durante a Idade Média (levando em consideração aqui somente a cultura ocidental).
Durante a Idade Média o homem vivia relativamente preso de uma ordem social e passava a vida toda nela.
Até geograficamente estava fixado, às vezes, de modo incondicional.

O artesão tinha que que vender seu produto a um preço fixo. A vida econômica e social estava dominada por regras.
Todas as perguntas eram respondidas pela Igreja, o europeu estava certo de sua localização no universo espiritual e geográfico.
Esse homem medieval pensava de acordo com categorias, como povo, família e religião.
Quando esses laços foram cortados, o camponês foi expulso da terra para os burgos ele perdeu esse laço e não há como voltar.

Na Renascença, o ocidental passou a ter noção de individualidade, a expressão mais nítida foi o liberalismo e o capitalismo.
A Reforma Protestante contribuiu bastante, pois enfraqueceu o papel da Igreja. No entanto, o protestante precisa “lidar” com Deus sozinho.
Apesar do homem ter conquistado sua liberdade ele não aprendeu o que fazer com ela.
O indivíduo viu-se sem proteção, o mundo não era mais o mesmo da Bíblia, assim o ser humano também se compreendeu de maneira insignificante.
Naquele momento havia a possibilidade de subir socialmente, de ganhar dinheiro, de pensar, mas não havia mais corporações para as profissionais e nem leis que restringissem a concorrência.
O indivíduo conquistou uma suposta liberdade, mas perdeu a proteção. Ele foi lançado numa luta de todos contra todos.

Nessa situação, o ocidental sente sua independência como um fardo e anela pela libertação da “liberdade que para ele é insuportável”.
Assim incorporando-se a uma massa o indivíduo se vê fortalecido.
O impulso masoquista é a expressão inconsciente de uma tentativa de aniquilação do “Eu”, através da sujeição a um poder superior.
O sádico na verdade é uma pessoa fraca, pois sua vontade de poder é um sinal da sua dependência.
Dentro de tudo isso entra a pequena burguesia alemã uma classe brecada nos seus impulsos e cercada de hipocrisias. Ao mesmo tempo que são indivíduos com força para se autos sacrificarem, são tenazes, tem ética do trabalho e disciplina. Tudo isso foi absorvido pelo nazismo.

Para explicar esse indivíduo, Anatol usa a imagem da cebola não se acha caroços, apenas cascas.
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Olá Juliane,
Que maravilha de post.
As ideias humanas sempre encontram alguma origem na história da humanidade, parece que nada é novo e que vivemos em períodos cíclicos que se repetem continuamente.
Abraço.
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Juliane na sua opinião o radicalismo do estado islâmico é parecido com o nacional socialismo ? faço a pergunta porque eu assisti a série Califado (ótima por sinal) e muitas atitudes deles lembram a intolerância,a violência e o radicalismo do NS principalmente no recrutamento e na doutrinação dos jovens,coisa que a juventude hitlerista fazia com muita eficiência e também lembrando que os nazistas tinham simpatia pelos muçulmanos pois ambos compartilhavam do anti semitismo e os alemães admiravam a disciplina (vamos dizer assim) dos muçulmanos,tanto é que a legião árabe se aliou a Werhmacht pra lutar na segunda guerra que era o: ”845 ° batalhão alemão árabe”
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Oi Bruno, acho que tem similaridades na questão do fanatismo, mas eu não conheço de forma profunda as questões individuais das sociedades islâmicas. O mundo árabe sofreu com o colonialismo, então não sei até que ponto isso não foi uma reação. Teria que estudar de forma mais aprofundada essas sociedades. Abraços.
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